Saturday, August 18, 2007

Os texto que seguirão daqui para frente se referem aos fichamentos escritos por mim durante a disciplina: "Dinâmica da agricultura familiar e do mundo rural", ministrada pelo Professor Dr. Flávio Sacco dos Anjos
Maciel


Hai Kai: RESPOSTA

Antropocêntrico?
Uma ova! Porém...
De bem com a vida.

Wednesday, August 15, 2007

Hoje?

"Se cada dia cai
dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
Há que sentar-se
na beira do poço da sombra
e pescar luz caída com paciência."

Pablo Neruda - "Últimos Poemas"

Tuesday, August 07, 2007

A perfeição é uma utopia. Entretanto, a mediocridade é um fato corriqueiro.
Encare a utopia, mesmo nas pequenas ações, como algo a ser conquistado e estaremos caminhando rumo a nossa realização e à construção de um mundo melhor. Maciel em 07.08.2007

Sunday, August 05, 2007

Hai Kai

ESTUDO
Noite à dentro
Mergulho no silêncio
Desvendando a vida

Saturday, August 04, 2007

O que é uma tese?
Uma tese não passa de um arranjo lógico de palavras, de maneira a se buscar entender fragmentos da atividade humana. O poeta organiza palavras de uma forma a sensibilizar o coração. Eu, como pesquisador das ciências agrárias, procuro, ao juntar palavras, desvendar os mistérios e necessidades do povo camponês de meu País. No fundo, caminho no sentido de, como já dizia Bertold Brecht, "aliviar o drama da existência humana". Maciel
Texto 19 – ANJOS, F. S. dos; CALDAS, N. V. Pluriatividade e Ruralidade: falsas premissas e falsos dilemas. In: O novo rural brasileiro: novas ruralidades e urbanização. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. p. 72-105.

No contraponto das teses que apontavam para um índice de urbanização semelhante aos países desenvolvidos, a partir de um “paradigma da modernização”, onde o “ocaso dos campos” era algo inevitável, os autores recuperaram o processo de discussão ocorrido desde os anos 80, em relação à visão da ruralidade. Nesse aspecto, tornava-se necessário redefinir o papel dos novos atores no campo em diferentes contextos tanto no Brasil como no exterior, além da descoberta da importância das atividades não agrícolas no meio rural. Para isso, eles se propõem a mostrar a trajetória da construção do conceito de “pluriatividade” e as diferentes teses muitas das quais conflitivas e equivocadas. Por fim, os obstáculos que este novo enfoque de desenvolvimento rural tem à luz da legislação brasileira. Como esforço central dos autores pode-se dizer que é a identificação dos fatos que fazem surgir a pluriatividade e as características do processo de transformação rural que a pluriatividade determina.
Como “pluriatividade” é definido: “a atribuição de novos papéis aos territórios no contexto de uma sociedade pós-industrial, plenamente abastecida de alimentos e matérias primas, e que simultaneamente reivindica um melhor uso dos recursos econômicos, ecológicos e sociais”. Os autores mostram como a “agricultura de tempo parcial”, nos anos 70, considerada como um fenômeno de transição para a modernidade, passa a constituir como pauta de reivindicação de entidades como a Modef e a CNSTP na França e a Confcoltivatori na Itália. Nesse aspecto, percebe-se, primeiramente nos países desenvolvidos, a transição do paradigma da modernização produtivista para o paradigma da multifuncionalidade.
No Brasil a questão da pluriatividade começa a partir da constatação de que o emprego rural não-agrícola cresce mais do que o emprego agrícola. Entretanto estes estudos ficam restritos à região sul. Surge o “Projeto Rurbano” que reafirma o “novo rural brasileiro” entendido como a ampliação das atividades não-agrícolas no campo e da pluriatividade praticada pelos residentes no meio rural e a constatação de que o fator mais importante para segurar a população no meio rural durante a década de 90 foram as atividades não agrícolas.
Os autores apresentam as falsas teses sobre a pluriatividade.
- a “multiocupação” causada pelo desemprego estrutural e a crise da sociedade pós-industrial produziram situações de “auto-emprego”;
- A “desdiferenciação” que é o caso de agricultores patronais que exercem outras funções não agrícolas ou auferirem rendas provenientes de outras atividades (pecuária, por exemplo);
- o vínculo da “pluriatividade” na questão da agricultura familiar aos processos de industrialização regional que recruta grandes contingentes de mão-de-obra das atividades agrícolas.
Por isso, a idéia da “pluriatividade” deve superar a questão da industrialização regional e reconhecer outras atividades como o turismo rural, o lazer, a indústria doméstica rural, ou até a prestação de serviços.
Os autores nos mostram que até o final dos anos 70 o conceito de pluriatividade foi utilizado associado às explorações agrícolas decadentes, sem condições de participar do circuito tecnológico moderno. A partir daí, nos mostram as conclusões do “Arkleton Project” que apresenta a pluriatividade como instrumento que permite compreender as transformações da estrutura agrária européia sob um determinado contexto social e econômico. Apresentam o conceito de Uttiz de “estilos de vida” como recurso para compreender o processo familiar de tomada de decisão em função de determinações externas complexas, que permite entender como explorações pluriativas caminham para uma produção “monoativa” e vice-versa. Com esse referencial teórico, os autores estudam o comportamento social de produtores de arroz no litoral sul de Santa Catarina no que diz respeito à dinâmica da participação da força de trabalho e a influência da presença de uma forte atividade industrial têxtil, como força exógena à agricultura familiar, mas que influencia na presença da mão de obre familiar nas atividades essencialmente agrícolas, em especial as mulheres e os jovens.
Sob a luz do materialismo histórico os autores justificam a pertinência da pluriatividade e da diversificação no atual modelo agrário e agrícola contemporâneo e a própria “desdiferenciação” como forma de sustentabilidade dessa atividade produtiva.
A crítica à teoria do “refúgio” é contestada sob a argumentação do custo de oportunidade do fator trabalho que permite ao agricultor familiar ir atrás de melhores oportunidades de aumento da receita familiar em atividades não essencialmente agrícolas. Os autores concluem dizendo que a “desagrarização” não significa “desruralização”.
Para concluir, discutem o papel da reforma agrária no Brasil e as posições que consideram a sua vocação strictamente agrícola. Para os autores, a pluriatividade é um desafio que pode contribuir no processo de desenvolvimento territorial =FIM=
Texto 18 – ABRAMOVAY, Ricardo. . Texto para discussão no 72, Brasília: IPEA.31 p, 1998

Na introdução, Abramovay inicia sua argumentação na antítese do pensamento que associa o meio rural à idéia de que nele só permanece os que não se aventuram nas cidades e que seu declínio é, apenas, uma questão de tempo. Posição essa que o autor vai desenvolver à seguir e que considera as experiências de vários países desenvolvidos. Que a ruralidade não é obstáculo ao desenvolvimento rural, e sim, a fraca densidade de população e a distância. Que as regiões rurais dinâmicas devam ser exemplo para as regiões atrasadas e que estas, dinâmicas, possuem um modelo mais realista do que as urbanas.
O autor apresenta três formas de delimitação do rural, e suas restrições:
a) A delimitação administrativa que é utilizada em diversos países da América Latina e que tem como restrições:
- a concentração das decisões no nível dos poderes públicos;
- os aglomerados servidos pelo poder público passam a ser considerados “urbanos” e;
- a definição do rural pela “carência”.
b) A forma onde o peso econômico se ancora na ocupação da mão-de-obra agrícola.
- esse método poderia abolir o espaço rural dos países desenvolvidos pela importância do trabalho não agrícola.
c) o critério do patamar populacional utilizado em alguns países da Europa.
- A dificuldade no Brasil estaria posta na definição do “quanto” de população se caracterizaria como rural, uma vez que os limites internacionais são variáveis; com isso a comparação de informações fica comprometida e, por fim, que este critério não permite uma abordagem regional para a questão.
Abramovay insiste que “ruralidade” é um conceito territorial e não setorial e cita a formulação da FAO/DAS da importância das atividades econômicas múltiplas (não agrícolas) e que, por sua vez, também existem propriedades agrícolas no perímetro urbano, provando que o ideal seria uma definição espacial. Daí que o desenvolvimento rural é um conceito espacial e multissetorial e a agricultura é, apenas, parte dele.
O autor, citando Galston e Baehler, recupera o sentido da relação da ruralidade com a natureza. Que essa relação nos EUA é, acima de tudo, uma fonte de geração de renda. Cita a dificuldade de expectativa no incremento de preços de commodities agrícolas e as vantagens da relação com a natureza, que o autor apresenta como “valores de amenidades” e também os três “r”: recreation, retirement e residences. E que existe na França uma maioria que defende que o rural é mais uma paisagem do que um espaço de produção. Conclui esse argumento dizendo que nessa relação com a natureza (como um valor a ser preservado) ganham as forças políticas e as práticas produtivas voltadas para a exploração sustentável da biodiversidade. Dessa forma, que a definição de indicadores de desenvolvimento rural deve incluir essa relação entre sociedade e natureza.
Aborda a questão da dispersão populacional e as formas relacionais de “interconhecimento” das pessoas que vivem no rural diferentemente do modo vivendis das cidades. Cita a noção de pertencimento e a formação de uma identidade (communal), cultural. Mostra também diferentes representações que os franceses construíram sobre o urbano (progresso, trabalho, medo e solidão) e o rural (beleza, saúde, igualdade, aposentadoria e tranqüilidade).
Apresenta três métodos de definição de rural que do ponto de vista da importância rurais não densamente povoadas e o tipo de ralação construída com as cidades: O caso Americano (ERS/USDA - o continuum), o da França (Insee/Inra) e do OCDE (baseado na questão da territorialidade e da pluriatividade). Nas conclusões do trabalho, Abramovay constata que as áreas rurais, globalmente, concentram os piores indicadores de desenvolvimento. Propõe que, em função da magnitude da população rural (no Brasil e em diversos países desenvolvidos) se busque construir uma aplicação específica para a noção de desenvolvimento, em função das imensas possibilidades existentes no meio rural (oportunidade de criação de postos de trabalho, em especial). Que a ruralidade não é uma etapa a ser superada, e sim, valorizada para as sociedades contemporâneas. Que a importância da agricultura para o Brasil não impeça a definição territorial do desenvolvimento e do meio rural, considerando o capital social do desenvolvimento dos territórios, tornando-se mais que necessário o abandono da identificação automática entre rural e áreas destinadas ao esvaziamento social, cultural e demográfico. Que o importante não é saber se um distrito censitário é rural ou urbano e sim, a dinâmica da região, sem que a sua aglomeração urbana seja isolada de seu entorno.
Texto 17: WADA, Haruki. Marx y la Rusia revolucionaria

Introdução
Haruki Wada, pesquisador da Universidade de Tóquio, publicou este artigo em tela no ano de 1975. Nele o autor buscou, a partir de documentos da última fase da vida de Marx, encontrar pista sobre algumas visões do autor de “O Capital” sobre o campesinato que poderiam modificar a histórica polêmica entre marxistas e populistas na Rússia durante todo o século XIX. Essa reflexão contribuiria também, segundo Wada, para se entender as contradições do processo de industrialização que passou a sociedade japonesa. O caminho adotado foi a recuperação de cartas e rascunhos, em especial a carta que seria enviada ao editor do jornal Otechesvennye Zapiske e seus rascunhos e as cartas e rascunhos a Zasulich. Quase todas as referências ao processo russo encontram-se sob a forma de cartas e rascunhos. Por isso, fica difícil compreender qual foi a verdadeira opinião de Marx sobre a Rússia.
As motivações para este tipo de pesquisa:
§ Compreender a verdadeira história do pensamento social russo;
§ O lugar de Plekanov com sua versão de “marxismo” na Rússia;
§ Descobrir uma chave para compreensão da estrutura das economias capitalistas subdesenvolvidas;
§ Um esforço para reconsiderar o populismo russo sobre as bases das semelhanças entre as idéias de Marx sobre a Rússia em seus últimos anos de vida e as do populismo;
§ Um crescente interesse pelas comunas camponesas russas e;
§ Uma intenção por descobrir uma receita para resgatar a altamente industrializada sociedade Japonesa das profundidades de suas contradições

Marx morre e a carta a Zapiski não foi enviada. Engels tenta sua publicação em 1884, sem êxito, sendo publicada apenas em 86, o que causa reação de populistas como Gleb Uspenski, em “Amarga censura”.
Em 1890, Lênin, Plekanov e outros marxistas, visando não fortalecer as teses populistas afirmam que a carta não possui nenhum conteúdo expressivo que apontasse caminhos para a revolução russa.
Os rascunho só foram descobertos em 1911 por Ryazanov e Bujarin. Em 1923 foi redescoberta e publicada por Nikolaevsky, por um menchevique exilado. Ryazanov a publica com os rascunhos.
Os socialista revolucionários deram boas vindas a este material no resgate ao que havia sido desenvolvido pelos populistas russos e, também, que o programa descrito na carta era exatamente a base da teoria socialista revolucionária a respeito da revolução campesina, as exigências agrárias e as técnicas rurais.
Sujanov, na União Soviética, 1926 deu apoio à carta dizendo que “a comuna rural fui utilizada como meio para promover a coletivização da agricultura”. Historiadores não se manifestaram
1929, com a coletivização, a carta serve de apoio teórico (M. Potash, que era leninista). Seguem debates polarizados com A. Ryndich.

I – A questão com os populistas
Marx e sua posição radical contra o populismo russo em O Capital, Vol 1 de 1867. Pancada de Marx em Herzen que dizia que a comuna rural russa era exclusiva do mundo eslavo
Fev 1870 Marx estuda Russo influência de Danielson que dá o livro Situação da classe trabalhadora na Rússia, do populista Bervi-Flerovski – livre do otimismo russo (da contaminação) de Herzen – inevitabilidade da revolução russa.
Utin (oposição a Bakunin e Herzen) pede a Marx que o apresente na I Internacional, ele tinha posição populista em relação à comuna campesina
“Asnos” e “de todo esse lixo se deduz que a propriedade comunal russa é compatível com a barbárie russa, mas não com a civilização burguesa”.
Marx começa a mudar de idéia com German Lopatin (jul 1870), que pede p traduzir em russo Capital.
Lopatin elogia Chernyshevski - comentários sobre Princípios da Economia Política em Stuart Mill. Verdadeiro ponto de inflexão de Marx. Começa a ver: populismo e comuna em diferente perspectiva.
Marx escreve a Elizabeta Tomanovskaya, membro da seção russa da I Internacional. Posição de Marx era a de que a probabilidade da comuna, desafortunadamente sua dissolução e transformação em pequenas propriedades, em função das políticas do Governo (abolição da garantia coletiva)
Elizabeta pede para Marx ler (?) Haxthausen, citado por Chernyshevski, com dados sobre a comuna. “Alternativas”: a comuna iria desaparecer ou sobreviver no eixo da regeneração social da Rússia?
Após 1872, Marx volta à teoria (Comuna de Paris e Questões na I Internacional)
Inicia a 2 ed Alemã do Capital Vol 1., nessa versão, poucas correções, retira a (!) e a chacota a Herzen a seu “comunismo ruso”. Faz elogios a Chernyshevski que escreve a Tese: “que em função do desenvolvimento Ocidental seria possível que a Rússia saltasse da propriedade comunal para o socialismo”.
Marx, após essa tese, pede a Danielson informações sobre a origem das comunas. Dois livros:Materiales sobre lãs Arteles e um livro de Skaldin

II
Na edição francesa Marx muda o texto da versão alemã: (...) “Somente na Inglaterra tem uma forma clássica” por “(...) mas em todos os demais países da Europa ocidental estão atravessando o mesmo movimento” (mesmo com as comunas!).
Pode-se entender que Marx deixava aberta a hipótese de que na Europa Oriental/Rússia poderia ter outra via de evolução.
Nesse momento Engels polemiza com Pyotr Trachev sobre o livreto “Tarefas da propaganda revolucionária na Rússia” – chamou-o de “estudante novato”. A resposta foi a carta aberta ao Sr. Engels, Zurich, 1874. Marx comentou que Bakunin estava por trás. Porém, Marx percebeu, entretanto, que Trachev tinha razão e conhecia a realidade russa “a revolução não poderia esperar!”
Marx via o avanço (lento) do desenvolvimento econômico, na mesma direção da Europa Ocidental, e o início da desintegração das comunas (via formação de diferentes classes Kulacs) à o bem agora!

Engels, com Marx por trás, escreveu que Trachev não compreendeu que o socialismo só é possível quando forças sociais de produção haviam alcançado certo nível de desenvolvimento. Mostra a situação de proteção por parte do Estado aos burgueses e a especulação que os Kulacs imprimem aos camponeses. (Fonte de dados Skaldin).

Engels continua seu ataque a Trachev de que na Rússia é possível uma revolução socialista por que os russos são assi por dizer, o povo eleito do socialismo e tem artel (cooperativas) e propriedades coletivas da terra. Engels retruca dizendo que as cooperativas russas servem mais ao K do que aos trabalhadores. D deveria elevar-se ao menos ao nível das organizações cooperativas da Europa Ocidental. Que as Artel seria destruída pela indústria em grande escala a menos que siga se desenvolvendo (influência de Marx).

Engels acreditava que a única saída para as comunas seria a revolução proletária na Europa Ocidental. Como os proprietários camponeses russos estariam mais próximos do socialismo do que os trabalhadores sem propriedade na Europa ocidental? (Posição de Trachev)

Dois caminhos de desenvolvimento que Marx e Engels percebiam:
- a via do desenvolvimento capitalista ou,
- o caminho que levava diretamente a comuna rural ao socialismo.

As diferenças teóricas foram diminuindo...

III – Cartas a Mijailovski
A Guerra contra a Turquia e as perspectivas de derrota
Com a derrota o processo revolucionário em curso
Conversas com o Prof. Kovalevsky que estava havendo uma discussão em cima do Capital
Mijailovski critica o texto da acumulação primitiva como processo de um “progresso universal”. Ele considerava que Marx afirmava que todos os países devem experimentar exatamente o mesmo processo de expropriação do campesinato que havia sido sucedido na Inglaterra.

A primeira parte da carta de Marx – evitando falar da revolução e sem citar nomes
Questões já resolvidas: a critica em Herzen (comunismo russo) e elogios a Chernyshevski, como grande pesquisador e crítico russo. Compartilhamento das posições populistas de Chernyshevski, além disso, Marx fez estudos em língua russa e chegou a seguinte conclusão:
“Se a Rússia segue por um caminho que vem seguindo desde 1871, perderá a melhor oportunidade que a história há brindado jamais a uma nação, e padecerá as fatais desgraças do desenvolvimento capitalista”. Equivale a um chamamento ao povo Russo para uma revolução!
A segunda parta da carta (que não foi enviada)
Marx explicita o caráter localizado da acumulação primitiva na Europa Ocidental e que havia corrigido esse capítulo em 1875.
a) caso a Rússia tentasse se converter numa nação capitalista como as da Europa Ocidental, teria que converter grande parte dos campesinos em proletários e, logo,
b) teria que submeter-se às leis implacáveis deste sistema, como outras nações ocidentais. (posição diferente do Prefácio do Capital (ver texto marcado da página 83)

IV - Cartas para Zasulich (em 1877 ou 1878?)
Rússia vence a guerra contra a Turquia e aumenta o poder Czarista e se ampliam as lutas com os Populista revolucionários. Em fevereiro de 79 assassinato do Governador Kropótkin de Jarkov. No ano novo de 1880 Engels escreve para Wilhem Liebknecht, do Comitê da Vontade do Povo, refletindo sobre a Revolução Russa que se aproximava. Marx, por sua vez, se prestava a ajudar Leo Hartman
Hartman comunica N. Morozov que Marx estava lendo e apoiando o Programa dos terroristas russos, mas que não se pronunciaria entendendo que seu programa era diferente dos socialistas. Marx criticava o grupo Reparto Negro, de Plejanov, refugiados em Genebra (comunismo-anárquico-ateu).
Marx recebe em novembro de 80, mensagem do “Comitê do Partido Social Revolucionário Russo” e passa a não se referir mais à “Partido Terrorista” p.86
Em 1879 Marx leu: A propriedade comunal da terra: as causas, processos e conseqüências de sua dissolução, de KOVALEVSKI, M.M. que atribui aos ingleses a responsabilidade da dissolução da propriedade comunal da terra. Marx acrescenta a responsabilidade do Progresso econômico e da responsabilidade dos ingleses com ativos nessa destruição. Além disso, ele deixou notas muito detalhadas.
Na Coleção de Materiais para estudos da comunidade rural (Livre Sociedade Econômica e Associação Russa de Geografia) escreve: “A conseqüência da propriedade comunal da terra é esplêndida!”. No artigo de Semenov esta escrito que os camponeses russos praticam uma forma coletiva de exploração dos prados e que distribuem por igual a erva sagrada. Marx comenta isso na carta a Zasulich

Danielson em 17 de fevereiro escreve sobre as condições de pesadas cargas de impostos, vendiam os alimentos da subsistência e que os trens e os bancos estavam acelerando essas transações de grãos, empobrecendo os camponeses.
Famosa carta resposta de 10 de abril de 1879 para Danielson, onde Marx vincula tudo isto como um fenômeno característico de desenvolvimento capitalista nos países atrasados (estrutura específica para o capitalismo atrasado). Marx deve muito a ele, mas ainda não aceita a tese do fim da servidão e da crise absoluta do capitalismo russo.

Zasulich escreve em 16 de fevereiro solicitando parecer sobre os destinos da comuna rural. Segundo L. Deich entre 1880 e 1881, debate entorno do artigo de V.P.Vornontsov que a Rússia carecia das bases para um desenvolvimento capitalista e pede ajuda, no artigo, para Marx. Zasulich entretanto pede a Marx dizendo que seus “discípulos prediletos” diziam que a comuna russa era uma “forma arcaica” condenada à ruína. Pede que Marx escreva em nome do Grupo Reparto Negro. Marx, entretanto, baseia a resposta nas teses do “Vontade do povo”.

Os rascunhos da carta de Zasulich:
No Segundo rascunho: Que a acumulação primitiva não se aplica na Rússia; “circunstâncias históricas” que decidem os destinos da comuna rural e o seu lugar na cadeia histórica das organizações arcaicas da sociedade e suas formas alternativas de desenvolvimento. Termina dizendo sobre os pontos importantes que o momento afeta à comuna rural.

No primeiro rascunho:
Duas características principais da comuna agrária (dualismo): o coletivo e o individualismo. Que podem ser o germe de sua dissolução e ao mesmo tempo pode permitir que o aspecto da comuna que favorece o coletivismo supere o aspecto que favorece a propriedade privada.
A argumentação sobre o caso Russo resumido em três pontos
1- As comunas rurais se preservaram numa escala nacional;
2- Características estruturais:
a) a propriedade comunal da terra oferece à comuna uma base natural para a produção e apropriação coletiva;
b) a familiaridade dos camponeses com o “artel” facilitaria a transição da agricultura de parcela individual para coletiva;
c) Na exploração dos prados de propriedade comunal os camponeses já praticam uma forma de produção coletiva;
3- Circunstâncias históricas:
a) a transição da agricultura de parcela individual a trabalho cooperativo é vital para tirar a agricultura russa da crise, porém as condições materiais da transição já estão postos na forma de tecnologias do sistema capitalista;
b) “o público Russo” setor privilegiado da sociedade russa, deve bancar o adiantamento necessário para a introdução dos cultivos mecanizados
c) O desenvolvimento da comuna rural por esta via é exatamente o que as tendências históricas do momento pedem e provam as “crises fatais” que estão sacudindo a produção capitalista na Europa e América.
Apesar de Marx não falar em revolução proletária, ele já muda sua posição ou percepção da via pela qual o Ocidente adiantado há de servir como precondição para a revolução Russa. Antes Marx esperava apenas a revolução proletária na Europa e a conseqüente ajuda à revolução Russa. Hoje vê na tecnologia e na crise da produção capitalista.
Outro ponto de debilidade é a existência de um microcosmo localizado. Deve-se abolir o “volost” (governamental) e instituir “une assemblée de paysans” (assembléia de campesinos) elegidas por eles e servindo como instituição econômica e administrativa para proteção de seus interesses. O que aconteceu após 1905. Marx apaga a anotação que atribuía à fragilidade da comuna ser um “microcosmo localizado” e retoma no próximo rascunho.
No terceiro rascunho:
Retoma a questão do microcosmo localizado, conceito dinâmico e descarta a proposta mais estática dos comitês/volost. Para tanto Marx acentua a capacidade campesina de modificação em si mesma espontaneamente. (CAPACIDADE DE LUTA)
Marx se apóia em:
- Kovalevski à Estado por meio de suas políticas de exploração e opressão vem agravando conflitos de interesse dentro das comunas e desenvolvendo as sementes da decomposição.
- Danielson à Estado ajudando que se enriqueça a nova peste capitalista que está chupando a comuna.
E termina: “Se a comuna há de se salvar, torna-se necessário uma revolução russa.”
O autor, Wada, deduz que Marx não quis publicar sua posição com o “Reparto Negro”, de Zasulich, em função de sua ligação e afinidade com o Grupo “A Vondade do Povo”. Na carta de apresentação do trabalho Marx diz que a analise sobre o processo de acumulação primitiva apresentado em “O Capital” não se aplica à Rússia. Conclui com a afirmação de que: para que a comuna sirva de “ponto de apoio para a regeneração social na Rússia, as venenosas influências que a atacam por todos os lados devem ser eliminadas e logo devem assegurar-se as condições normais de um desenvolvimento espontâneo”.

V – A insatisfação de Marx
Março de 1881 assassinato do Czar Alexandre II – Marx e Engels entenderam que haviam condições para o estabelecimento da comuna russa.
Final de março, Engels escreve para A. Babel “as condições revolucionárias se anteciparam, estão amadurecendo”.
Carta para sua filha Jenny Longuet em 11 de abril, aplaudia a atitude de Zhelyabov e Perovkaya frente ao tribunal e o comentário sobre a carta que o Comitê Executivo da Vontade do Povo enviou ao Czar Alexandre III com refinada declaração de ‘moderação’.
Final de 1881 Marx estava esgotado mentalmente. Sua esposa faleceu em 02 de dezembro. Neste ano ainda visitou Ventnor.
16 de janeiro, regresso à Londres e carta de P.L. Lavrov necessidade de novo Prefacio para o Manifesto Comunista. Nele Marx, na versão para a tradução russa, escreve que “A única resposta possível para esta questão (...) é: si a revolução russa se converte em um sinal para a revolução proletária no ocidente, de modo que as duas podem complementar-se, então a atual propriedade comunal da terra na Rússia pode servir como ponto de partida para um desenvolvimento comunista”. Posição Engeliana que acreditava que a revolução russa uma vez iniciada seria seguida com toda a certeza pela Alemanha. Carta a Bernstein em 22 de fevereiro.
1882 Marx leu Os destinos do capitalismo na Rússia, de Vorontsov. Em 14 de dez escreve para sua filha Laura Lafargue
Texto 16: SHANIN, T. El ultimo Marx: dioses y artesanos. In: SHANIN, T. El Marx Tardio y la Via Russa: Marx y la periferia del capitalismo. Madri: Editorial Revolucion, 1990. p. 13-58.

Teodor Shanin inicia seu artigo contextualizando o ambiente de Marx no período que antecede a produção do Volume I de “O Capital”, momento histórico em que, em função do desenvolvimento industrial na Europa Ocidental, tornam-se mais explícitas as relações de exploração do trabalho e a produção da “mais valia” que possibilitava o processo de acumulação ampliada do capital. Marx constrói sua teoria econômica sob o impacto da Revolução Francesa, e do desastre da Comuna de Paris. Além disso, ainda estava presente a força do pensamento evolucionista de Charles Darwin, da organização do pensamento político socialista de Fourier e Saint-Simon, da filosofia de Spencer, da dialética idealista de Hegel e do positivismo de Comte.
Apesar da sociedade capitalista mais avançada ser a Inglaterra, Marx pode estudar o processo de desenvolvimento econômico e social de várias sociedades capitalistas ou em vias deste desenvolvimento como o processo alemão e francês. A base teórica de “O Capital” se sustentava num primeiro momento (Volume I – publicado em 1867) das premissas evolucionistas, como a determinação de que o país mais desenvolvido industrialmente (a Inglaterra) poderia ser a imagem do futuro de outras nações ocidentais. Essa visão unidirecional das leis naturais para o desenvolvimento capitalista foi motivo de muita reflexão para Marx em sua epistemologia a partir dos princípios do materialismo histórico (dialética marxista). Nesse momento, além dos “novos” estudos no campo da antropologia que desvendavam o período pré-histórico das sociedades humanas, em especial a vida rural dos povos antigos, ele considerou outras relações sociais até então existentes como as sociedades orientais e o Modo de Produção Asiático como exemplos de sociedades fora do eixo unilateral das explicações científicas. Além disso, ainda existia o caso da Rússia que se mantinha até o século XIX com forte presença das relações feudais.
Sobre a Rússia, Shanin faz uma reflexão sobre o papel e a importância dos “populistas”, em especial, a tendência “Terra e Liberdade” atuante durante o período de 1879 até 1883, com Herzen, Lavrov e Chernyshevsky, dentre outros. Essa tendência se dividiu na corrente “A Vontade do Povo”, de grande influência política e na “Reparto Negro”, mais radical, e que foram totalmente aniquiladas pela polícia Czarista. Os populistas admitiam o processo revolucionário nas mãos dos camponeses e dos trabalhadores assalariados ou de jornada incompleta (mais adiante, também nas mãos dos intelectuais). Esse ambiente revolucionário dos populistas na Rússia exerceu grande influência nas teses revolucionárias de Marx e Engels. Porém, foram nos últimos dez anos da produção de Marx que ele se aproximou mais claramente das teses do populismo revolucionário, teses formuladas em função da existência das comunas campesinas existente na Rússia.
Como ponto de partida dessa reflexão sobre as teses populistas, segundo Shanin, foi a carta (e sua resposta) da então militante do Grupo Reparto Negro, Vera Zazulich, que atribuía às comunas rurais da Rússia uma “supervivência”, ou um “resto” positivo da organização social do comunismo primitivo, positivo como “resto” presente de uma sociedade sem classes e como potencial (de sua preservação) para o futuro. Essas reflexões foram amadurecendo em Marx que passou a ver a comuna re-estabelecida em um novo e mais elevado nível de bem estar social e de interação mundial (globalizado) participante da futura sociedade comunista. Outro ponto de reflexão foi a resposta à carta ao editor de Otechestvennye Zapiski, não publicadas (nem os rascunhos) pelo grupo Emancipação do Trabalho, mesmo com o pedido de Engels, que entendiam que explicitar uma mudança de posição de Marx poderia dificultar a luta revolucionária do início do século XX.
Shanin continua seu artigo mostrando as afinidades de Marx com todas as expressões revolucionárias, independentemente de sua bandeira. Posição esta que causava uma irritação nos marxistas doutrinários, haja vista as grandes polêmicas e os rachas que aconteceram com a II Internacional Socialista.
Para concluir, o autor busca demonstrar o caráter humano (e não divino) de Karl Marx usando os argumentos das mudanças ocorridas nas diferentes fases de sua obra. Desde o texto da “Acumulação Primitiva” com uma visão unidirecional da história e a abertura que já pode ser sentida nos “Grundrisses” apontando para a multiplicidade de caminhos na evolução da formação capitalista. Reiterando o eu disse em aula, a nossa formação Marxista-Leninista nos fez ver o Marx radical, imutável, quase um Deus da ideologia anti-capitalista (ou anti-Yankee). Essa leitura me fez ver o outro lado, a face humana, da construção do materialismo histórico que comporta dúvidas e retomadas de posição frente às obviedades de novos fatos. Aliás, coerente, como deveria ser, com o método da dialética marxista.
Texto 15: CHAYANOV, Alexander. Viaje de mi hermano Alexis al pais de la utopia campesina

Trata-se de um texto em forma de uma novela, escrita por Chayanov e publicada em Moscou, em 1920, sob o pseudônimo de Ivan Kremnev.
A história tem por coadjuvante principal o Sr. Alexei Vasilievich Kremnev que, ao sair de uma reunião no Museu Politécnico em algum dia do mês de outubro de 1921, onde se discutia as ações que seriam desencadeadas com vistas ao golpe final no regime burguês, se viu envolto numa viagem imaginária ao país da utopia camponesa.
Ao acordar, se encontra em um local desconhecido. Assustou-se ao ver num jornal a data estampada de 05 de setembro de 1984, ou seja, um salto de 63 anos na história. Numa carta que estava ao seu lado se deu conta que estava sendo apresentado pelo nome de Charlie Man, americano que encontrava-se em Moscou para conhecer as grandes realizações técnicas no campo da agricultura, decorrentes da revolução camponesa ocorrida na década de 30.
Charlie Man é recebido por uma mulher de nome Paraskeva e, a seguir, por seu irmão Nikifor Alexevich Minin que o levam para um passeio pela cidade de Moscou. Não era mais um país socialista, nem anarquista, nem capitalista. Tratava-se, segundo seus anfitriões, de um sistema social e político com hegemonia camponesa. As cidades grandes foram destruídas e as populações urbanas descentralizadas por todos o país. Foram construídas redes de rodovias onde foram assentados pequenos núcleos urbanos que funcionavam como sedes de milhares de regiões camponesa.
Essa República, baseada na exploração familiar camponesa, que nos sistemas anteriores era vista como em extinção, passava agora a ter um status de modernidade, onde o trabalho rural era planificado e altamente prazeroso e gratificante. Havia, porém, uma ameaça de guerra com a Alemanha e, uma vez em curso, foi imediatamente sufocada com a utilização de equipamentos eletromagnéticos que, além de controlar o clima e produzir chuva, poderia também criar catástrofes climáticas que se traduziam em um mecanismo de defesa contra inimigos externos. Dessa forma, os alemães foram derrotados e, como compensação, transferiram para Moscou várias obras de arte que eram imediatamente expostas em museus volantes que levavam cultura a todos os lugares.
Kremnev observa o grau de desenvolvimento das regiões e das pequenas cidades que pareciam não ter fim, uma vez que elas se interligavam entre campos produtivos, florestas e parques públicos. Kremnev, ou seja, Mr. Charlie Man foi apresentado a Katerina que, mais tarde se apaixona e inicia uma relação mais afetiva. Entretanto, no desenrolar dessa novela Mr. Charles é constantemente solicitado a falar sobre o modo de vida americano. Porém, ele sempre escapulia e fugia do assunto com questionamentos sobre o sistema camponês Russo. Numa visita a um museu de cera ele encontra uma imagem sua relacionando-o a um membro do Conselho Mundial das Economias e opressor dos camponeses.
Mr. Charlie busca informações sobre as bases sociais da vida camponesa em vigor e dos princípios que regem o cotidiano. Foi explicado que o princípio era a valorização camponesa em toda a sua plenitude. Que havia dois problemas a serem resolvidos, a saber: 1) um econômico, cuja solução exigia um sistema de economia nacional que lhe conferisse um papel diretivo, 2) um social/cultural, o problema da organização social de amplas massas da população. Que o Estado era mínimo e foi substituído por formas associativas, cooperativas, academias, congressos, alianças, jornais e, por fim, círculos. Depois de muitos contratempos em função de sua crítica, Mr. Charlie é preso e tem uma experiência dos lugares de detenção no país das utopias. Tenta explicar sua identidade, mas sua história não é aceita como verdade e só é solto em função do fim da guerra contra os Alemães.
Texto 14: CHAYANOV, Alexander. La organización de la unidad económica campesina. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 1974. p.1-132.

A apresentação é de Eduardo P. Archetti que articula de forma muito clara as principais hipóteses que diferenciam Marx e Chayanov no que diz respeito à dinâmica da produção camponesa.
Chayanov, na introdução desta obra, apresenta as principais correntes do pensamento econômico sobre o destino da agricultura, presentes na Rússia no início do século XX e que tiveram como substratos teóricos as teses marxistas e populistas. Ele se coloca na vertente denominada “Escola da Organização e Produção”, juntamente com Chelintsev, Makarov, Rybnikov e outros, que, dentre outras linhas de pesquisas, desenvolveram a polêmica “Teoria da Unidade Econômica Camponesa”. Essa teoria foi construída em função das novas formas de organização camponesa na transição do sistema feudal para o capitalista, momento em que foram implementadas políticas de acesso à terra, organização de cooperativas de produção e desenvolvimento e difusão de tecnologias, em especial, máquinas e implementos agrícolas.
A questão fundamental era que o desenvolvimento tecnológico e o seu conseqüente aumento de produtividade não era absorvido pela agricultura familiar camponesa de baixa renda que se esforçava, sob inúmeras formas, em manter-se na terra e preservar o espaço de subsistência, muitas vezes com inversões negativas em seus investimentos em relação à renda capitalizada. Essa forma de organização do trabalho se apresentava completamente diferente das formas empresariais. O autor encaminha duas hipóteses a serem confrontadas: a) a fictícia dupla natureza do camponês – trabalhador e empresário e, b) o conceito da unidade econômica familiar, cuja motivação é semelhante ao sistema de empreitada.
O primeiro capítulo se dedica ao estudo da família camponesa e a influência de seu desenvolvimento na atividade econômica, iniciando pelas leis que regem a constituição do camponês em sua unidade familiar com suas relações com o mercado organizado, sua terra de produção e a composição da mão-de-obra dentro e fora da propriedade, como elemento organizativo do processo de produção. Aproveitando os dados do censo de zemstvos, Chayanov analisa o tamanho da família russa, a relação de consumo e trabalho, a distribuição da faixa etária de seus membros e a relação de volume de trabalho com o tamanho da família. Apresenta o conceito de “diferenciação demográfica” que explica a distribuição de grupos camponeses segundo a área semeada como alternativa à categoria “diferenciação social” até então utilizada. Conclui mostrando a necessidade de se estudar outros fatores, além do papel do trabalhador familiar, para se determinar o tamanho da unidade econômica e a natureza da unidade econômica.
No segundo capítulo, o autor se propõe a discutir a medida da autoexploração de trabalho e o conceito de “benefício” na família camponesa. Define os produtos bruto e líquido e os “ingressos” de recursos sejam pelas atividades agrícolas ou não. Analisa a intensidade de consumo distribuição da força de trabalho familiar ao longo do ano. Como conclusão, afirma que o grau de autoexploração da força de trabalho se estabelece pela relação entre a medida da satisfação das necessidades e o peso do trabalho. Que a extensão da unidade doméstica de exploração é determinada pela relação entre as necessidades de consumo da família e a sua força de trabalho.
No terceiro capítulo (e último analisado neste trabalho), Chayanov aprofunda os princípios básicos da organização da unidade camponesa. Apresenta os fatores de produção (terra, capital e trabalho) de uma empresa agrícola e a lógica de maximização do lucro pelo empresário em função da otimização e da racionalidade empresarial. Diferentemente, a força de trabalho no campesinato sendo um componente fixo na composição da produção é definida pelo tamanho da família. O autor conclui que a força de trabalho numa unidade familiar de produção é definida pelo tamanho da família. Esta, por sua vez, determina o tamanho da atividade familiar, o nível geral da intensidade do trabalho e o grau de satisfação das necessidades para as condições específicas de um determinado mercado e dos demais fatores de produção disponíveis (terra e capital), além do próprio consumo da família.
Texto 13: KAUTSKY, Kahl. A Questão Agrária. Os Economistas, São Paulo: Nova Cultural, 1986.
(Resumo do trecho até o capítulo VI, inclusive)

Kautsky procura apresentar, sob a ótica marxista, a importância das classes do proletariado e do capitalista no modo de produção capitalista. Porém, que co-existem outras formas remanescentes de outros modos de produção pré-capitalistas e outras como embrião de futuras formas. Que o camponês é uma camada intermediária e que aponta sua luta para lados opostos em determinadas situações. Que se esperava que a luta entre grandes e pequenos estabelecimentos culminasse com a derrocada do pequeno o que facilitaria o domínio das massas camponesas pela luta proletária. Existência de uma “força misteriosa”, que tantas surpresas já causaram aos partidos revolucionários, que mantém o pequeno estabelecimento.
Para o autor, não se deve fixar apenas na luta entre o grande e o pequeno, nem se deve focalizar a agricultura como entidade isolada e desligada do mecanismo integral da produção social. Tampouco, não se trata de substituir o grande pelo pequeno. Que a agricultura não é cópia fiel da indústria. Encaminha questões para futuras pesquisas: o K se apodera da agricultura? Como o faz? Torna insustentáveis velhas formas?
Kautsky faz uma comparação entre o processo de formação da indústria e a sua influência no campesinato. O modo de produção capitalista se desenvolve, primeiramente, via de regra, nas cidades e na indústria. O desenvolvimento industrial já conseguiu modificar o caráter da agricultura. Antes a família camponesa medieval funcionava como uma cooperativa auto-suficiente. Produzia tudo para sua auto-subsistência. A má colheita, o incêndio, tudo se reconstruía, se reparava. O desenvolvimento da indústria gerou demandas de novos produtos da cidade causando a dissolução da indústria camponesa de consumo de subsistência. Antes a boa colheita era sinal de fartura. Hoje, com o mercado, é sinal de preços baixos e menos dinheiro.
A família camponesa funcionava como uma cooperativa doméstica e auto-suficiente. A aldeia era uma cooperativa auto-suficiente e economicamente fechada, propriedade fundiária comunitária. O campo tinha três afolhamentos, subdivididos em diversos campos cultivados menores. Nesses campos havia, para cada unidade agrícola, um lote de propriedade exclusiva. Além dessas terras havia a terra indivisa de uso comum – florestas e pastagens, explorada em regime cooperativo. Plantava-se trigo para a subsistência e o pastoreio, dominante, era atividade de interesse comum para toda a comunidade.
Os “Direitos Consuetudinários”, que significava nada exportar, tudo consumir na própria aldeia. Isso foi perturbado pela pressão do mercado por produtos da aldeia. Reduzem o tamanho das terras camponesas e com isso, desequilibram o sistema das 3 rotações.
Kautsky apresenta o funcionamento da agricultura moderna, como ciência, e sua adaptação à evolução tecnológica e do mercado que reduziu terras e ampliou as demandas.
Apresenta de forma detalhada e, à luz da teoria marxista, os elemento componentes da economia rural: o valor (que não tem o mesmo significado que preço), a mais-valia, o lucro, a renda diferencial e a renda fundiária absoluta e, por fim, o preço da terra
Kautsky escreve um longo capítulo discutindo a superioridade técnica do grande estabelecimento. Inicia situando a propriedade no período pré-capitalista onde a diferença entre a utilização de técnicas não existia entre a grande e a pequena propriedade. Apenas nas “plantações” havia diferenças. Nas demais, apenas o uso de animais fazia diferença.
Na agricultura a unidade familiar esta vinculada com a atividade produtiva. Ele faz comparações entre a exploração em grandes terras e em pequenas e mostra as vantagens das grandes extensões. Os ganhos de escala na estrebaria, na semeadura, no custo de preparação da terra, no uso de energia elétrica, o uso na máquina elétrica só seria vantajosa na grande.
Custos administrativos são menores nas grandes. No comércio e na educação. O custo de um agrônomo (burguesia) é grande para uma pequena propriedade. Nos transportes “o custo diminui (...) quem compra em grandes quantidades... compra melhor”. Cita John Stuart Mill que é defensor dos pequenos em função da quantidade de trabalho e do “esforço sobre-humano”. Escreve sobre a necessidade do trabalho infantil (12 anos) na pequena propriedade. As dificuldades quanto à moradia, moveis e utensílios, as vantagens em função das privações (alimentação) e do trabalho infantil. Para finalizar, o autor descreve o funcionamento das experiências em regimes de cooperativas e conclui com um questionamento: “Por que, de modo geral, a agricultura moderna, apresentando um desempenho tão bom em moldes capitalistas, não poderia funcionar em regime de cooperação?”