Tuesday, December 16, 2008

E-mail enviado aos amigos Hélvio, Juçara, Flávio e Nádia no dia 15 de dezembro de 2008, no período seguinte ao falecimento de minha irmã Marly


Caros Hélvio/Juçara e Flávio/Nádia,
Só agora pude ter acesso à Internet. Desculpem por este texto, mas vocês são as pessoas que, nesse momento, eu gostaria de compartilhar meus pensamentos.
Fiquei essa semana todinha ao lado da Marly. Nunca tinha visto um ser humano sofrer da forma como ela sofreu. Muita dor, mas sempre, com dignidade. Ela não se queixou da vida ou demonstrou medo da morte em nenhum momento. Essa foi a maior lição que já pude aprender com ela. Sua morte se deu na madrugada de sexta para sábado e a cerimônia de cremação foi hoje pela manhã. Como ela frequentava um grupo budista, a rito foi realizado por monges amigos dela. Foi muito bonita a despedida. Em algum momento o monge perguntou: alguém quer fazer uso da palavra? Eu disse, só por dois minutos... Falei 10. Eu não tomo jeito mesmo!!! Mas o povo gostou de minha fala. Acho que depois dessa vou faturar uns trocados em funerais... hehehe
Me despedi da Marly fazendo uma reflexão sobre o grande paradoxo que é a vida e a morte. Eu dizia que a minha vida só era feliz e interessante pois eu sabia da existência do fim, da morte. Sem ela, a morte, a vida não teria sentido. Com esse entendimento, penso que superei muito do meu temor sobre ela. Disse eu ainda que, assim como o espírito, energia ou alma (como queiram chamar) é uma questão simbólica ou metafísica para nós humanos, para a energia, do outro lado, noutra dimensão (pós-morte), a matéria deve ser algo igualmente estranha, fraca, doente, inacabada... Por isso, a dita passagem deveria ser algo para nos animar, para nos confortar... Que aquele ente que amamos e que encontava-se no fundo do sofrimento físico, material, havia se despreendido para um plano, certamente, superior. Eu comparei aquele cadáver que estava ao meu lado, com a mecha de cabelos que deixamos no chão de nosso cabeleireiro ou mesmo daquele minúsculo pedaço de unha que cortamos com a tesourinha e que, imediatamente, jogamos no lixo sem o menor apego, mesmo sabendo fazer parte de nosso corpo. Na realidade, aquele corpo ainda representava a minha irmã no que ela foi em vida, a pessoa que nós amamos e que convivemos em seus 71 anos. Porém, misteriosamente, ela não era mais a Marly. A nossa Marly continuaria viva em nossa mente e em nosso coração. Ela sempre continuará presente entre nós e não mais naquele corpo inerte. Por isso, eu dava-me ao direito de não chorar, apenas uma forte emoção, pois eu estava triste, mas também estava feliz... Contraditório? Maluquice? Mas essa foi a forma que eu encontrei para consolar e acalmar meus parentes e amigos que lá estavam e, principalmente, manter meu equilíbrio e sanidade. Após a cerimônia budista e das minhas breves palavras, Acompanhei meu sobrinho João Eduardo para, somente nós dois, isolados dos demais membros da família (por questões regimentais do cemitério), assistirmos a colocação do corpo no forno crematório. Para ele, como filho, foi muito difícil aquele momento. Para mim, um pouco mais calejado de vida, foi um instante de pensar que fogo e energia possuem a mesma natureza e que aquele corpo físico, material, estaria apenas seguindo o rito natural da vida... " ao pó retornarás..."
Bah! Chega com essa prosa complicada...
Tenham a certeza que, por tudo isso, consegui sair bem dessa pancada que foi a morte da minha irmã. Sei também que a energia dela deve estar em algum lugar especial nesse cosmo, que para nós é infinito.
Amanhã de manhã volto para Curitiba para encontrar Teresa, meus filhos e netos para dar continuidade à vida. Retormar meus estudos e projetos que ficaram suspensos temporariamente.
Agradeço o apoio de vocês e digo-lhes que estou bem e confortado.
Um grande abraço fraterno,
Maciel

Thursday, June 12, 2008

Se alguém sabe de quem é essa, eu agradeceria de coração. Dizem que é do Augusto dos Anjos, mas tenho minhas dúvidas pois não encontrei ainda nas buscas que fiz pela internet. Ai vai:

Se falas por ignorância eu te perdôo.
Mas se queres abusar da minha alta prosopopéia,
Dar-te-ei um murro no alto de sua sinagoga,
Deixar-te-ei mais baixo que o solo pátrio,
E depois passarei por cima do seu corpo inerte
que os ignorantes chamam de defunto,
Mas que o nome científico é cadáver.

Anônimo? Augusto dos Anjos?

SONETO

À minha tese

junho de 2008.

Assíduo pensamento que se apodera,

Do raiar ao raiar do dia,

Segundo a segundo, o tempo todo,

Numa escala crescente de agonia.

Eis que se rompe em desespero amargo,

Trazendo a angústia do fundo d’alma

Desde sua morfogênese faz-se presente,

Atormentando com suas bandarilhas.

Pensamentos agrupam-se em palavras,

E apontam para uma lógica brilhante.

Que se dissolve no momento subseqüente,

Dando a impressão do nada, do vazio...

Nessa trama contínua, de fazer e desfazer

Numa alternância de gozo e de dor,

É que a profusão de idéias e práticas

Forja uma criatura, de início, amorfa.

Ah! Possa eu dormir exausto,

Com a sensação do dever cumprido,

E a visão de uma paisagem apoteótica,

De Mestres aplaudindo o fim do último ato.

Maciel Machado

Thursday, January 31, 2008

Conversando com Cyro Mascarenhas:

FRENTE À VIDA

(A DIALÉTICA DA EXISTÊNCIA)

A força do mar não se perde

nem a luz do sol e o vento

A árvore que cresce na floresta

e a pequena ave num vôo iniciante

tudo aparentemente sem nexo.

O tempo passa e não se perde

vida e morte em seu destino

A água desmancha a pedra

e o ciclo se repete, infinitamente,

em movimento complexo.

E o homem nesse tempo que passa

em toda a existência humana,

contempla o mar e a pedra

pensando ser dono e senhor

se perde em sonhos, perplexo.

Nesse ir e vir da vida

o homem bulindo na pedra

fez trabalho e opressão

e na dialética da vida

forjou o nome revolução.

Antonio Maciel Botelho Machado