Saturday, August 04, 2007

Texto 16: SHANIN, T. El ultimo Marx: dioses y artesanos. In: SHANIN, T. El Marx Tardio y la Via Russa: Marx y la periferia del capitalismo. Madri: Editorial Revolucion, 1990. p. 13-58.

Teodor Shanin inicia seu artigo contextualizando o ambiente de Marx no período que antecede a produção do Volume I de “O Capital”, momento histórico em que, em função do desenvolvimento industrial na Europa Ocidental, tornam-se mais explícitas as relações de exploração do trabalho e a produção da “mais valia” que possibilitava o processo de acumulação ampliada do capital. Marx constrói sua teoria econômica sob o impacto da Revolução Francesa, e do desastre da Comuna de Paris. Além disso, ainda estava presente a força do pensamento evolucionista de Charles Darwin, da organização do pensamento político socialista de Fourier e Saint-Simon, da filosofia de Spencer, da dialética idealista de Hegel e do positivismo de Comte.
Apesar da sociedade capitalista mais avançada ser a Inglaterra, Marx pode estudar o processo de desenvolvimento econômico e social de várias sociedades capitalistas ou em vias deste desenvolvimento como o processo alemão e francês. A base teórica de “O Capital” se sustentava num primeiro momento (Volume I – publicado em 1867) das premissas evolucionistas, como a determinação de que o país mais desenvolvido industrialmente (a Inglaterra) poderia ser a imagem do futuro de outras nações ocidentais. Essa visão unidirecional das leis naturais para o desenvolvimento capitalista foi motivo de muita reflexão para Marx em sua epistemologia a partir dos princípios do materialismo histórico (dialética marxista). Nesse momento, além dos “novos” estudos no campo da antropologia que desvendavam o período pré-histórico das sociedades humanas, em especial a vida rural dos povos antigos, ele considerou outras relações sociais até então existentes como as sociedades orientais e o Modo de Produção Asiático como exemplos de sociedades fora do eixo unilateral das explicações científicas. Além disso, ainda existia o caso da Rússia que se mantinha até o século XIX com forte presença das relações feudais.
Sobre a Rússia, Shanin faz uma reflexão sobre o papel e a importância dos “populistas”, em especial, a tendência “Terra e Liberdade” atuante durante o período de 1879 até 1883, com Herzen, Lavrov e Chernyshevsky, dentre outros. Essa tendência se dividiu na corrente “A Vontade do Povo”, de grande influência política e na “Reparto Negro”, mais radical, e que foram totalmente aniquiladas pela polícia Czarista. Os populistas admitiam o processo revolucionário nas mãos dos camponeses e dos trabalhadores assalariados ou de jornada incompleta (mais adiante, também nas mãos dos intelectuais). Esse ambiente revolucionário dos populistas na Rússia exerceu grande influência nas teses revolucionárias de Marx e Engels. Porém, foram nos últimos dez anos da produção de Marx que ele se aproximou mais claramente das teses do populismo revolucionário, teses formuladas em função da existência das comunas campesinas existente na Rússia.
Como ponto de partida dessa reflexão sobre as teses populistas, segundo Shanin, foi a carta (e sua resposta) da então militante do Grupo Reparto Negro, Vera Zazulich, que atribuía às comunas rurais da Rússia uma “supervivência”, ou um “resto” positivo da organização social do comunismo primitivo, positivo como “resto” presente de uma sociedade sem classes e como potencial (de sua preservação) para o futuro. Essas reflexões foram amadurecendo em Marx que passou a ver a comuna re-estabelecida em um novo e mais elevado nível de bem estar social e de interação mundial (globalizado) participante da futura sociedade comunista. Outro ponto de reflexão foi a resposta à carta ao editor de Otechestvennye Zapiski, não publicadas (nem os rascunhos) pelo grupo Emancipação do Trabalho, mesmo com o pedido de Engels, que entendiam que explicitar uma mudança de posição de Marx poderia dificultar a luta revolucionária do início do século XX.
Shanin continua seu artigo mostrando as afinidades de Marx com todas as expressões revolucionárias, independentemente de sua bandeira. Posição esta que causava uma irritação nos marxistas doutrinários, haja vista as grandes polêmicas e os rachas que aconteceram com a II Internacional Socialista.
Para concluir, o autor busca demonstrar o caráter humano (e não divino) de Karl Marx usando os argumentos das mudanças ocorridas nas diferentes fases de sua obra. Desde o texto da “Acumulação Primitiva” com uma visão unidirecional da história e a abertura que já pode ser sentida nos “Grundrisses” apontando para a multiplicidade de caminhos na evolução da formação capitalista. Reiterando o eu disse em aula, a nossa formação Marxista-Leninista nos fez ver o Marx radical, imutável, quase um Deus da ideologia anti-capitalista (ou anti-Yankee). Essa leitura me fez ver o outro lado, a face humana, da construção do materialismo histórico que comporta dúvidas e retomadas de posição frente às obviedades de novos fatos. Aliás, coerente, como deveria ser, com o método da dialética marxista.

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