Saturday, August 04, 2007

Texto 18 – ABRAMOVAY, Ricardo. . Texto para discussão no 72, Brasília: IPEA.31 p, 1998

Na introdução, Abramovay inicia sua argumentação na antítese do pensamento que associa o meio rural à idéia de que nele só permanece os que não se aventuram nas cidades e que seu declínio é, apenas, uma questão de tempo. Posição essa que o autor vai desenvolver à seguir e que considera as experiências de vários países desenvolvidos. Que a ruralidade não é obstáculo ao desenvolvimento rural, e sim, a fraca densidade de população e a distância. Que as regiões rurais dinâmicas devam ser exemplo para as regiões atrasadas e que estas, dinâmicas, possuem um modelo mais realista do que as urbanas.
O autor apresenta três formas de delimitação do rural, e suas restrições:
a) A delimitação administrativa que é utilizada em diversos países da América Latina e que tem como restrições:
- a concentração das decisões no nível dos poderes públicos;
- os aglomerados servidos pelo poder público passam a ser considerados “urbanos” e;
- a definição do rural pela “carência”.
b) A forma onde o peso econômico se ancora na ocupação da mão-de-obra agrícola.
- esse método poderia abolir o espaço rural dos países desenvolvidos pela importância do trabalho não agrícola.
c) o critério do patamar populacional utilizado em alguns países da Europa.
- A dificuldade no Brasil estaria posta na definição do “quanto” de população se caracterizaria como rural, uma vez que os limites internacionais são variáveis; com isso a comparação de informações fica comprometida e, por fim, que este critério não permite uma abordagem regional para a questão.
Abramovay insiste que “ruralidade” é um conceito territorial e não setorial e cita a formulação da FAO/DAS da importância das atividades econômicas múltiplas (não agrícolas) e que, por sua vez, também existem propriedades agrícolas no perímetro urbano, provando que o ideal seria uma definição espacial. Daí que o desenvolvimento rural é um conceito espacial e multissetorial e a agricultura é, apenas, parte dele.
O autor, citando Galston e Baehler, recupera o sentido da relação da ruralidade com a natureza. Que essa relação nos EUA é, acima de tudo, uma fonte de geração de renda. Cita a dificuldade de expectativa no incremento de preços de commodities agrícolas e as vantagens da relação com a natureza, que o autor apresenta como “valores de amenidades” e também os três “r”: recreation, retirement e residences. E que existe na França uma maioria que defende que o rural é mais uma paisagem do que um espaço de produção. Conclui esse argumento dizendo que nessa relação com a natureza (como um valor a ser preservado) ganham as forças políticas e as práticas produtivas voltadas para a exploração sustentável da biodiversidade. Dessa forma, que a definição de indicadores de desenvolvimento rural deve incluir essa relação entre sociedade e natureza.
Aborda a questão da dispersão populacional e as formas relacionais de “interconhecimento” das pessoas que vivem no rural diferentemente do modo vivendis das cidades. Cita a noção de pertencimento e a formação de uma identidade (communal), cultural. Mostra também diferentes representações que os franceses construíram sobre o urbano (progresso, trabalho, medo e solidão) e o rural (beleza, saúde, igualdade, aposentadoria e tranqüilidade).
Apresenta três métodos de definição de rural que do ponto de vista da importância rurais não densamente povoadas e o tipo de ralação construída com as cidades: O caso Americano (ERS/USDA - o continuum), o da França (Insee/Inra) e do OCDE (baseado na questão da territorialidade e da pluriatividade). Nas conclusões do trabalho, Abramovay constata que as áreas rurais, globalmente, concentram os piores indicadores de desenvolvimento. Propõe que, em função da magnitude da população rural (no Brasil e em diversos países desenvolvidos) se busque construir uma aplicação específica para a noção de desenvolvimento, em função das imensas possibilidades existentes no meio rural (oportunidade de criação de postos de trabalho, em especial). Que a ruralidade não é uma etapa a ser superada, e sim, valorizada para as sociedades contemporâneas. Que a importância da agricultura para o Brasil não impeça a definição territorial do desenvolvimento e do meio rural, considerando o capital social do desenvolvimento dos territórios, tornando-se mais que necessário o abandono da identificação automática entre rural e áreas destinadas ao esvaziamento social, cultural e demográfico. Que o importante não é saber se um distrito censitário é rural ou urbano e sim, a dinâmica da região, sem que a sua aglomeração urbana seja isolada de seu entorno.

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