Sunday, June 03, 2007

Texto 09 - MARTINS, J. de S. Crítica à sociologia rural: o futuro da sociologia rural e sua contribuição para a qualidade de vida rural. In: MARTINS, A. A sociedade vista do abismo. Petrópolis: Ed. Vozes, 2002. p. 219-228.

O texto discurso de Martins no X Congresso Mundial de Sociologia Rural, realizado no Rio de Janeiro, no ano 2000, inicia com uma reflexão sobre o processo de “desencantamento”, do ponto de vista Weberiano, que vem passando a Sociologia Rural. Em especial, no que diz respeito à relação com a agricultura familiar, segmento da sociedade que possui seus próprios códigos de conhecimentos e concepções de destino, de certa forma não compreendido historicamente pela prática dos sociólogos rurais brasileiros. Falta de compreensão, em especial, na questão da visão de retardamento ao desenvolvimento econômico e social.
Martins sociologia deveria ter sido moldada para compreender o modo de ser e de viver das comunidades rurais que são mediadas pela própria maneira de se inserirem no circuito de seus processos sociais e históricos. A sociologia se pautou muito mais pelo que os sociólogos gostariam que fosse, do que pela vontade e expressão genuína dessas comunidades rurais.
O autor afirma que “modernização” é um valor dos sociólogos e que para os rurais, as representações sobre este tema se ligam mais ao desemprego, desenraizamento, desagregação, dor e sofrimento. Que o êxodo rural vem desnudando uma perspectiva crítica quanto ao desenvolvimento capitalista e que esse deslocamento de massas já mostrou aos sociólogos que o rural pode subsistir fora da economia agrícola.
O autor cita o significado social do processo de desenvolvimento implementado no país após o Golpe de Estado em 1964 (e que José Graziano chamou de “Modernização Dolorosa”) e do processo engendrado de “contradesenvolvimento social”. Para a população rural era “resistência” ao que não havia sentido e nem compreendido.
Martins faz uma reflexão sobre o processo de ocupação territorial brasileiro a partir da década de 60, chamando de “modernização postiça”, em virtude dos enormes investimentos trnasferidos para grupos econômicos nacionais e estrangeiros que se utilizou de trabalho escravo e peonagem para seus megaprojetos agropecuários. E nesse processo histórico a sociologia estava ao lado deste pensamento hegemônico de modernização.
O autor relata sua experiência como membro da “Junta de Curadores do Fundo Voluntário das Nações Unidas contra as formas contemporâneas de escravidão”, que aponta a existência de mais de 200 milhões de pessoas submetidas à escravidão em todo o mundo e que a Sociologia Rural foi o instrumento de remoção de resistências às mudanças. Que ela elaborou diagnósticos para desmontar a sociedade tradicional, mas não teve competência para solucionar as crises decorrentes do processo de expropriação que as comunidades sofreram, para Martins, um processo social anômico.
Propõe que ao invés de se fazer um “mea culpa”, a sociologia rural faça uma uma revisão crítica de suas práticas e de seus rumos. Que se faça uma sociologia da sociologia rural e alerta que existe mais sociologia nas obras de Garcia Marquez, Manuel Scorza, Steinbeck, Saramago, Juan Rulfo e Guimarães Rosa do que nas complexas análises sociológicas clássicas. Se buscar construir uma sociologia do conhecimento, uma sociologia crítica, que remova os compromissos com a “engenharia social” e aponte para a dignidade e para a libertação humana. Aponta Martins que as comunidades rurais são autoras e consumadoras de um modo de vida que é também um poderoso referencial de compreensão das irracionalidades e contradições do mundo não rural e que o futuro da sociologia rural está nas mão das comunidades rurais. Que ela se liberte de uma concepção estamental do mundo rural
Para concluir, Martins observa o papel dos Movimentos Sociais que lutam pela posse da terra e que essa luta é um desafio à sociologia rural para desvendar seu protagonismo e criatividade campesina e que para compreender sociologicamente, o sociólogo rural deve reconhecer-se como membro da comunidade de destino das populações que estuda e lança um desafio final: mergulhar no sonho inventivo e regenerador que ainda há no mundo rural. Tanto para decifra-lo e preza-lo, quanto porque há nele a nostalgia do futuro e a negação das privações que o presente representa para muitos. =FIM=

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