Friday, November 23, 2007

Texto 1: HERVIEU, Bertrand. Los campos del futuro. Madri: Ed. MAPA, 1996. p.24-109
Bertrand Hervieu, abordou em seu livro “Los campos del futuro” a questão da agricultura familiar na França. Analisou, em especial, a década de 80, período em que considerou ter havido várias rupturas na agricultura familiar francesa. Para a análises dessas rupturas partiu de dois episódios ocorridos na França, o primeiro, em 24 de junho de 1990, com a comemoração de uma boa safra, e o segundo, de caráter reivindicatório, ocorrido em setembro de 91, quando cerca de 200 mil pessoas reclamaram da crise da agricultura familiar, sob o mote: “Não queremos um país sem agricultores” e os protestos violentos ocorridos à seguir.
O autor realizou tanto um diagnóstico da questão camponesa na França, como desvendou as aspirações dessa sociedade a respeito da agricultura. Partiu das mudanças históricas ocorridas com os produtores agrícolas, em especial, o processo de “desterritorialização”, que alterou a paisagem rural tanto em relação ao tamanho das populações, as atividades agrícolas praticadas e o surgimento de populações rurais não agrícolas. Ele considerou a existência de diferentes crises nas relações sociais que se dão nos espaços da cidade e do campo. A ruptura de ordem demográfica pode ser sentida nas periferias das cidades onde se deu um crescimento superpopulacional e nos espaços agrícolas que passou a ter baixas densidades. Com isso, Hervier vinculou outras rupturas como a ocorrida entre “agricultura e família”, entre “agricultura e território” e entre “agricultura e alimentação”. Considerou, ainda, que a ruptura “agricultura e natureza” pode exemplificar todas as demais rupturas.
Para a análise do comportamento populacional ele apresentou um quadro histórico desde o século XIX, passando por diferentes momentos: de 1860, com o “Tratado anglo-francês de livre câmbio”; de 1880; devido a crise pela concorrência com o trigo americano; de 1915 e de 1942, com as duas guerras mundiais; de 1929, com a grande depressão e o momento seguinte ao pós-guerra com o processo de modernização e crescimento que a historiografia francesa contemporânea denomina “Trente Glorieuses”; chegando aos anos 80, com um declínio na população estritamente agrícola. Concluiu que espaços rurais são espaços de vida para populações cada vez mais heterogêneas.
Com relação à exploração agrícola familiar entendeu que não se trata do fim da família em si, mas de um novo momento onde se dão novas relações e uma pluralidade de modelos de organização familiar e a separação irreversível entre empresa e família.
Sobre a questão territorial, o autor apresentou as mudanças ocorridas na paisagem agrícola e que determinaram novas relações sociais. Estas, por sua vez, foram afetadas por fenômenos como a desertização, a desterritorialização, a concentração e a especialização da produção, as questões jurídicas, a ruptura entre o local de trabalho e o de moradia, dentre outros fatores de mudanças.
Quanto à alimentação, o autor partiu da função clássica mais importante da agricultura que era a produção de alimentos e, fez uma análise do percentual de recursos investido por uma família francesa em alimentação, mostrando que hoje, apenas 5% são direcionados para a matéria prima agrícola. O restante segue para o circuito da distribuição, transformação e comercialização. Ou seja, o que antigamente determinava uma estreita relação entre produtor e consumidor, com mais da metade dos recursos familiares sendo canalizados para essa relação, na atualidade isso não mais existe. Alimentos, roupas, móveis se converteram em um universo sintético e artificial e a matéria prima agrícola se transformou em um elemento insignificante. Isso determinou uma ruptura tanto na relação do agricultor com o seu espaço de organização (profession agricole), como entre ele e a indústria de transformação e o mundo do comércio e distribuição. Concluiu afirmando que a ruptura moral é tão grave como a incerteza econômica.
Na discussão sobre o meio ambiente, Hervier se apoiou nos embates conflituosos ocorridos entre políticos, ambientalistas a agricultores em função dos impactos ambientais provenientes da prática agrícola “moderna”, intensiva em insumos, máquinas e implementos. Tornou-se evidente a crise psicossocial vivida pelos agricultores, os quais sempre se viram como os autênticos interlocutores entre sociedade e natureza. O autor chamou a atenção para a necessidade de se ampliar estudos envolvendo todos os segmentos sociais, em especial, os agricultores, para se entender os caminhos nas relações com os seres vivos em geral.

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