Friday, November 23, 2007

Texto 11: WANDERLEY, M.N.B. Raízes históricas do campesinato brasileiro. In: TEDESCO, J.C. (Org.). Agricultura familiar: realidades e perspectivas. Passo Fundo: EDIUPF, 394 p, 1999. p. 23-56.
Para a autora, a agricultura familiar não é uma categoria social recente. Diz que o artigo tem como eixo a hipótese de que: a) a A. F. é um conceito genérico; b) ao campesinato corresponde uma dessas formas particulares da A.F.; c) a A. F. que se reproduz nas sociedades modernas deve adaptar-se a um contexto socioeconômico próprio dessas sociedades; d) essas transformações do chamado agricultor familiar moderno, no entanto, não produzem uma ruptura total e definitiva com as formas anteriores, gestando, antes, um agricultor portador de uma tradição camponesa; e) o campesinato brasileiro tem características particulares em relação ao conceito clássico de camponês.
Para Wanderley a agricultura familiar deve ser entendida como aquela em que é proprietária dos meios de produção e assume o trabalho no estabelecimento produtivo. Além disso, é genérica pois a combinação entre propriedade e trabalho assume, no tempo e no espaço, uma grande diversidade de formas sociais. Para explicar o campesinato tradicional, a autora lança mão das idéias de Mendras que identifica cinco traços característicos das sociedades camponesas: 1) autonomia face à sociedade global; 2) importância estrutural dos grupos domésticos; 3) sistema econômico de autarquia relativa; 4) uma sociedade de interconhecimentos; e, por fim, 5) a função decisiva dos mediadores entre a sociedade local e a sociedade global. Da conjugação do caráter de subsistência e do caráter de reprodução resultam suas características essenciais: a especificidade de seu sistema e a centralidade da constituição do patrimônio familiar.
A autora exemplifica o sistema de policultura-pecuária, mais uma vez cita Mendras para quem o sistema tradicional de produção camponês se caracteriza pela diversidade de produtos e a integração do sistema como forma de se buscar a segurança contra intempéries e desigualdades. Para Jollivet, “o caráter familiar (...) decorre de uma adequação às próprias condições tradicionais da produção agrícola”. Para Gervais, “(...) o individualismo, de que tanto se acusou o camponês, era uma necessidades técnica”. Cita ainda as posições de Tepicht sobre as forças produtivas não transferíveis e a existência de um tempo de não-trabalho, o que vai justificar a pluriatividade e a contratação de trabalhadores alugados na unidade familiar. No que diz respeito ao horizonte temporal das relações, Nazareth reflete sobre o projeto para o futuro (gerações futuras) em detrimento da sobrevivência no presente e ao enfrentar o presente e preparar o futuro o agricultor recorre ao passado (o saber tradicional). No tópico “As sociedades de interconhecimento e a autonomia relativa das sociedades rurais”, a autora afirma que a agricultura camponesa tradicional é inserida em um território (lugar de vida) e uma sociedade de interconhecimento. Porém, que sua autonomia é relativa. No item “Agricultura camponesa, agricultura de subsistência e pequena agricultura: o que dizem os conceitos”, ela afirma que a agricultura camponesa não se identifica simplesmente como de “subsistência”, nem que a pluriatividade e o trabalho externo representa, necessariamente, a sua desagregação. Que a terminologia “pequena produção” está relacionada com poucos recursos e restrições para potencializar suas forças produtivas.
Nazareth descreve as formas de agricultura familiar nas sociedades modernas, citando Eric Wolf “(...) meio caminho entre a tribo primitiva e a sociedade industrial”. Propõe uma reflexão sobre o campesinato que permaneceu, as formas modernas de agricultura familiar e a herança do passado. Descreve o campesinato no Brasil recuperando a história da agricultura brasileira, a dominação econômica, social e política da grande propriedade; a marca da escravidão e a existência de fronteiras de terras livres ou passíveis de serem ocupadas pela simples ocupação e posse e conclui que foi historicamente um setor bloqueado. Apresenta as fragilidades do sistema de produção que, segundo ela, uma precariedade estrutural, incapaz de desenvolver todas as suas potencialidades. Descreve o estabelecimento agrícola como um lugar de trabalho de família e os riscos do trabalho alugado para terceiros ou contratação de empregados e descreve a necessidade da busca por terras para a família
Concluindo, a autora, no processo de constituição do campesinato, considerou que o acesso à terra no Brasil foi doloroso e restrito, do que resultaram, para a historiografia analisada, as características principais do campesinato brasileiro em sua origem: a pobreza, o isolamento e a produção, esta, centrada na subsistência mínima e a extrema mobilidade espacial.

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