Friday, November 23, 2007

Texto 15: CARNEIRO, M. J. Pluriatividade da agricultura no Brasil: uma reflexão crítica. In: SCNEIDER, S. (Coord.). A diversidade da agricultura familiar. Série Estudos Rurais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006. p.165-185.

A autora inicia seu trabalho discutindo a pluriatividade sob dois aspectos (fenômenos): o primeiro, que enxerga a pluriatividade no aumento das atividades não agrícolas e conformação de novas identidades sociais no meio rural e o segundo, que vê a raiz da pluriatividade na crise de reprodução da agricultura de base familiar. Na seqüência, situa ainda duas vertentes na análise do contexto onde se produz a pluriatividade, a saber: 1) na mudança do perfil sócio-econômico no campo em função da diversificação, o que poderia se traduzir no “transbordamento do urbano sobre o rural” e relacionado com a introdução de novas alternativas de trabalho, o que para alguns autores seria o “Novo Rural Brasileiro”. 2) que as práticas não são estranhas às dinâmicas de reprodução social das famílias agrícolas, portanto, um fenômeno não transitório e nem conjuntural.
Cita Schneider que atribui a pluriatividade a existência de determinados contextos, onde a articulação das famílias com o mercado se daria através de atividades não-agrícolas ou para-agrícolas e não mais pela produção. Logo, a pluriatividade seria uma função exógena às famílias. Por fim, este autor define que a pluriatividade se manifestaria “naquelas situações em que a integração da agricultura familiar aos mercados alcança um novo estágio ou se dá por uma via distinta que é do mercado de trabalho”.
Apresenta a tese de Neves, próxima a de Schneider, em que a pluriatividade não é fenômeno recente, mas que sua atual expansão dependeria de contextos específicos. Esta autora encaminha a proposta de se proceder à dissociação da análise da unidade familiar e da unidade de produção com ênfase ao projeto familiar nas suas estratégias de integração social. Carneiro complementa essa idéia trazendo a sugestão de se integrar ao projeto familiar as decisões individuais, estas, por sua vez, podem ou não ser coerentes com o projeto familiar.
A autora conclui essa revisão teórica com um questionamento: “a pluriatividade designa ou não uma mudança na lógica da reprodução social das famílias agrícolas?” E sugere: “que deve-se ater a determinados contextos socioeconômicos nos quais a combinação de atividades agrícolas e não-agrícolas por famílias agrícolas corresponda à dinâmica do que poderíamos denominar genericamente e de forma provisória, de ‘ruralidade contemporânea’”.
Analisa o modo produtivista da agricultura familiar encontrado no sul do Brasil e sugere que esse modo, por protagonizar a modernização da agricultura, poderia ser considerado como o “verdadeiro agricultor”. Que essa forma de ver a agricultura familiar forjou as políticas públicas, o Pronaf, em sua forma inicial. Apresenta ainda o debate da década de 70 com a categoria de colono-operário, no sul do Brasil, o que foi determinar que a pluriatividade fosse fruto da intensificação da exploração da força de trabalho na agricultura. Na Europa com a dupla-atividade e com o operário-camponês, o pluriativo pode corresponder à manutenção de um ideal de autonomia. Analisa outras formas de situações sociais em diferentes regiões do Brasil.
Por fim, a autora realizando uma reflexão sobre o conceito da pluriatividade da agricultura, conclui: “a multifuncionalidade incorpora a noção de pluriatividade se considerarmos que as múltiplas funções da agricultura para a sociedade podem se traduzir em atividades exercidas pó diferentes membros das famílias de agricultores que não estão diretamente associados à produção de alimentos para o mercado”. “A pluriatividade pode ser considerada uma dimensão da multifuncionalidade e que ambas são fenômenos recentes engendrados pelas novas configurações das relações campo-cidade e das novas articulações entre agricultura e sociedade”.

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