Friday, November 23, 2007

Texto 13: ANJOS, F S dos; ESTRADA, E. M. Nuevas formas de cooperación econômica em la agricultura familiar brasileña. In: Revista Española de Estúdios Agrosociales y Pesqueros, n.191, 2001 pp.137-163.

Os autores se propõem a estudar o caso do cooperativismo no estado de Santa Catarina, região sul do Brasil e a emergência dos “Condomínios Agrários” como uma nova forma de cooperação econômica surgida nos anos 80, junto aos suinocultores do oeste catarinense, com o objetivo de contribuir na reprodução social e econômica das explorações agrárias de tipo familiar.
Analisam o contexto cooperativista surgido com o processo de modernização da agricultura brasileira iniciada por volta dos anos 70, com a chamada Revolução Verde e amparado pelos sucessivos Planos de Desenvolvimento Econômico produzidos a partir do golpe militar ocorrido em 1964. Esse processo de desenvolvimento estava ancorado no desenvolvimento da agricultura exportadora e produziu um desenvolvimento desigual que alguns autores denominaram de “modernização conservadora” (ou dolorosa), uma vez que não tocou na forte estrutura agrária concentrada em latifúndios.
Atentam para a concordância entre os autores no sentido da existência de um caráter seletivo no cooperativismo iniciado naquele período, ao privilegiar um grupo reduzido de produtores rurais, via crédito, subsídios e outros mecanismos em detrimento da maioria dos agricultores de base familiar.
Partem da apresentação dos primeiros modelos de cooperativismo adotado no início do século XX no Brasil, as casas rurais tipo Reiffeisen, cópia da experiência européia e analisam as dificuldade que esse tipo de organização apresentou, em especial: inexperiência administrativa, fragilidade da economia brasileira, corrupção, principalmente, a campanha de descrédito forjada pelo empresariado da época.
Já na modernização do período do milagre brasileiro o aparelho cooperativista re-surge com o objetivo de alavancar o capital no campo, canalisar o sistema estatal de crédito, contribuir na difusão e adoção de insumos industriais (fertilizantes e agroquímicos) e favorecer a concentração da terra. Esse cooperativismo tomou o lugar do sindicalismo rural extinto com o golpe militar e assumiu o desenvolvimento do modelo capitalista no campo, em especial, com as grandes lavouras de soja e trigo.
A partir dos anos 80, com a abertura democrática e o re-aparelhamento do movimento sindical e partidário o modelo cooperativista passou por profundas revisões, dando lugar a preocupações com a modernização ecológica e equidade social nos processos agrários e de desenvolvimento rural.
Os autores apresentam os “Condomínios Agrários” que surgiram em Santa Catarina e analisam o contexto de sua formulação, descrevendo a importância da suinocultura e da avicultura, atividades de grande importância econômica e social por envolver pequenas e médias propriedades rurais em sua dinâmica. Os condomínios surgiram em meados dos anos 80, junto aos suinocultores do oeste catarinense em função das dificuldades existentes nas relações de integração dos agricultores de base familiar com os complexos agroindustriais. Fruto da ação do Serviço Estadual de Extensão Rural que, buscando alternativas que diminuíssem os problemas da exclusão social e econômica existente na integração, construíram um modelo de relacionamento associativo onde os suinocultores puderam, com esses condomínios, reduzir custos e criar condições de produção mais eficientes. Basicamente, o modelo de associação reúne não mais que 12 sócios que, democraticamente, organizam, definem estratégias, e põem em comum algumas fases da produção trazendo vantagens econômicas, sociais e tecnológicas.
Esse modelo, que no primeiro momento causou certa preocupação por parte das indústrias integradoras, mostrou-se eficiente e trouxe vantagens num melhor funcionamento da cadeia produtiva.
Os autores fazem um paralelo desse modelo dos Condomínios com certas estruturas existentes no modelo Chayanoviano. Segundo as preocupações desse economista soviético que dirigiu a “Escola da Organização Camponesa” por volta da década de 20, as técnicas agronômicas, a extensão rural e a organização camponesa deveriam impulsionar a agricultura de base familiar no circuito capitalista, contrariamente às teses leninistas que apontavam para uma desintegração dessa forma de organização.
Como conclusões Sacco dos Anjos e Estrada destacam a importância dos “Condomínios Agrários” como uma forma de associação de produtores rurais de base familiar que produziu uma melhor adaptação às exigências do desenvolvimento capitalista sem que houvesse, no entanto, uma decomposição ou perda de singularidade em suas formas de organização. Que esse modelo está mostrando sua potencialidade em novos âmbitos do desenvolvimento rural como nos assentamentos rurais, inclusive apontando para a pluriatividade, uma vez que possibilita a diversificação das atividades produtivas e melhor integração com os complexos agroindustriais neutralizando os efeitos perversos dessa integração vertical.

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