Friday, November 23, 2007

Texto 4: ALMEIDA, M. W. B de. Redescobrindo a família rural. RBCS no 1, V.1, jun, 1986. p.66-83.
Mauro Almeida relata a importância dos estudos sobre a família rural nos anos 70 e 80 e o papel da família camponesa como “elemento funcional para o processo de acumulação capitalista”, onde a “pequena unidade de produção” (eufemismo para o termo “agricultura camponesa”) teria como função o barateamento de produtos alimentícios para a população trabalhadora urbana e, com isso, menores salários. Reforçando a tese de que pequenos produtores rurais fazem qualquer negócio para continuar sua existência. Apresenta alguns autores que afirmam tratar-se de uma lógica diferente da capitalista e outros que entendem diferentes lógicas familiares, ou seja, “uma dinâmica capitalista própria ao meio rural” onde alguns enriquecem e outros proletarizam-se.
Nessa discussão, estudos caminham no sentido de um modo de produção camponês, com o foco na “reprodução de ciclo curto, anual”, com a lógica econômica da família. Outros estudos apontam para a forma de perpetuação familiar nas gerações, com a lógica de parentesco (nascimento, casamento, morte, herança, etc.). É a passagem da visão macroeconômica para uma visão de reprodução da família para si (curto e longo ciclo).
Com a finalidade de se estudar a família rural lança-se mão de termos como “unidade doméstica” ou “família”. O autor, visando a definição de família, apresenta duas situações distintas. Na primeira acepção, família são pessoas que pertencem a uma unidade de produção. Além de uma variação, a necessidade do grupo doméstico ser constituído por parentes. A segunda definição, família diz respeito a um conjunto de parentes (família nuclear). A variante a esta definição seria a inclusão de que esta família se constitua num grupo econômico (consumo e/ou trabalho). Com estas quatro modalidades o autor realiza uma reflexão sobre a forma de composição de famílias rurais nas diferentes regiões do Brasil; a questão do funcionamento econômico do grupo doméstico; os tipos de famílias: neolocal, matrifocais, extensas, tronco, conjugal e os demais vínculos que as ligam.
Outra questão teórica discutida neste artigo se refere ao “ciclo de vida”. Almeida relata vários exemplos de formação ou fragmentação familiar e suas causas citando diferentes autores em várias experiências no Brasil e no mundo. Conclui essa discussão optando pela definição de grupo doméstico (cooperativo ou unidade técnica) para grupo de pessoas vinculadas por co-residência, consumo e trocas ou trabalho. “Família” para designar um grupo de pessoas que são vinculadas a priori por parentesco.
A seguir, insere a discussão sobre a economia doméstica partindo da definição de ciclo de reprodução camponesa, onde a família determina variáveis econômicas como: trabalho, terra e saber técnico. Utiliza a teoria de Chayanov, em especial a hipótese de que “o tamanho e a composição da unidade são dados não pelas exigências diretas do processo de produção, mas a priori, ao nível da família” (Meyer, 1979). A seguir, mostra diferentes composições de grupos domésticos quanto aos trabalhadores no nordeste brasileiro e também, a presença de assalariados nas unidades de produção. Outra questão chayanoviana diz respeito ao estoque de trabalho potencial em relação à composição da família. Mostra diferentes faixas etárias e seus vínculos com o trabalho familiar e também o comportamento camponês na amazônia, no nordeste e no centro sul e as relações entre os níveis de renda, o tamanho das famílias e o trabalho realizado.
O autor enfatiza a idéia da racionalidade camponesa que, em tese, busca a maximização do bem-estar familiar. Por isso, pode-se dizer que esta “racionalidade camponesa não é individual, mas cristaliza-se em formulas coletivas ou padrões culturais”. Mas uma vez retorna a Chayanov afirmando que na racionalidade camponesa “o grupo doméstico utiliza os recursos disponíveis de maneira a equilibrar consumo e esforço de maneira ótima”. Mostra vários exemplos onde discute, no plano cognitivo, o lugar do homem e da mulher no trabalho de unidades familiares camponesas (quem realiza o quê, as hierarquias e os conflitos).
Para finalizar o artigo, analisa outras relações sociais que se articulam com a família rural, ou seja, os grupos extradomésticos, seus vínculos com a família, a cooperação, a reciprocidade e o papel da política local e suas relações de poder. Mostra outros estudos que se prendem na questão territorial e intraclasse. No que tange a região sul, Mauro apresenta estudos de Seyferth, Santos,Woortmann, Moura e outros que analisam o “contexto da terra”, seus direitos, descendências, herança, a endogamia e, por fim, a restrição da transmissão da propriedade entre descendentes.

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