Friday, November 23, 2007

Texto 8: MOONEY, P. Tempo de trabalho, tempo de produção e desenvolvimento capitalista na agricultura: uma reconsideração da tese de Mann-Dickinson. Literatura Econômica, v.9, n.1, 1987. p. 27-41.

Mooney procura contestar a tese central defendida por Mann e Dickinson quando buscam, na tentativa de explicar o desenvolvimento desigual do capitalismo na agricultura, atribuir à lógica e à natureza do próprio capitalismo em detrimento aos argumentos que se ancoram “nas explicações da persistência das fazendas familiares que dão ênfase ou ao ‘momento subjetivo’ em que uma aumentada auto-exploração permite a reprodução, ou à expansão da produtividade do trabalho familiar mediante a inovação tecnológica”.
O autor inicia seu artigo com o que chama de crítica teórica sobre a tese de Mann-Dickinson no que diz respeito à persistência da agricultura familiar “na era do capitalismo avançado”.
A primeira crítica se baseia no que o autor considera de presunção dos autores no sentido da afirmação de que “o desenvolvimento capitalista parece parar, por assim dizer, na porteira da fazenda”. Para Mooney, o capitalismo não é nem unilinear nem convergente. “Ele (o capital) pode tomar novas formas de produção, no processo de esmagamento das formas antigas” (anteriores).
A segunda crítica se refere à afirmação “de que o esforço para a redução da brecha entre tempo de trabalho e tempo de produção é, de alguma forma, específica do capitalismo”. Para o autor, em qualquer sociedade e em outros modos de produção as pessoas sempre buscaram a harmonia entre esses dois tempos (de trabalho e de produção). Cita os Chineses no século XI e outros exemplos com hortaliças em sociedades capitalistas onde o homem sempre busca a redução do tempo de criação de uma mercadoria.
A seguir (terceira crítica), Patrick questiona sobre a posição de que a penetração do capital na agricultura se dá em função de mecanismos naturais ou do nível e tecnológico. Para ele, outros fatores devem ser considerados como as disputas que ocorrem no espaço econômico, político e ideológico.
O quarto ponto considerado se refere à fragilidade da tese em não realizar estimativas: a) na extensão do desenvolvimento capitalista; b) da variabilidade das exigências totais de mão-de-obra por todo o ciclo de produção; e, por fim, c) de perecibilidade. Faz-se necessário que as medidas de variância em necessidades de mão-de-obra sejam historicamente anteriores a medidas de desenvolvimento capitalista.
Um quinto ponto crítico pode ser apresentado no que diz respeito à preocupação com a distinção entre tempo de trabalho e tempo de produção. Os autores utilizaram dados do número total de horas de trabalho apenas de dois períodos: 1944 e de 1964, o que pode acarretar o surgimento de determinada sazonalidade na demanda por mão-de-obra assalariada ou mesmo familiar ao longo de todo o ciclo de produção nestes períodos. Além disso, os autores dissociam as tarefas ditas não-produtivas como, por exemplo, a administração e a contabilidade que fazem parte do universo produtivo, caso contrário o agricultor familiar deveria pagar recursos adicionais para a realização dessas tarefas.
Como última crítica, Mooney destaca a questão da perecibilidade dos alimentos ou das mercadorias no pós-safra. Acusa a imprecisão do termo e afirma que a mensuração da perecibilidade torna-se difícil pela falta de especificidade quanto ao que constitui essa perecibilidade, além da dificuldade da ausência de um marco teórico que possa ser confrontado com a hipótese tempo de trabalho versus tempo de produção.
A seguir o autor apresenta uma tabela com os “níveis de variação de mão-de-obra e desenvolvimento capitalista para mercadorias selecionadas”, para mostrar a pouca evidência empírica para apoiar a hipótese de Mann-Dickison e apresenta a discussão dessa variância sobre diversos produtos agrícolas. Conclui mostrando que existe uma tendência geral para a variância do tempo de trabalho reduzir-se paulatinamente, o que, porém, é acompanhado não por um aumento da presença do trabalho pago, como sugeriram Mann-Dickinson, mas por uma redução desse tipo de trabalho.
Finaliza o trabalho citando Wright (1978) que insere a expressão “localizações contraditórias de classe” entre mercadoria isolada e formas capitalistas de produção, para exprimir a idéia da luta que é travada entre as idéias que circulam sobre o controle da agricultura pelo capital. Conclui com a afirmativa de que “essa estrutura pode, efetivamente, não constituir um simples estágio de transição, mas uma formação em que o capital pode apossar-se da mais-valia de maneira mais eficiente e com menos risco do que através da forma do trabalho assalariado”.

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