Friday, November 23, 2007

Texto 16: SCHNEIDER,S. A pluriatividade como estratégia de reprodução social da agricultura familiar no Sul do Brasil. Estudos Sociedade e Agricultura. n. 16, abril, p.164-184, 2001.

O autor, comparando duas realidades locais, uma em Braço do Sul, em Santa Catarina e outra em Padre Eterno Ilges, no Rio Grande do Sul, partindo do contexto das unidades familiares de produção, “examina as relações da agricultura familiar com a emergência e consolidação das atividades não-agrícolas no espaço rural e a formação de unidades produtivas (...) identificadas com a pluriatividade das famílias rurais”.
Cita que nessas regiões as famílias rurais não desempenham mais exclusivamente atividades agrícolas, uma vez que aumentam suas receitas domésticas a partir de trabalhos externos à propriedade. Atribui às Unidades de Produção à diversificação das atividades e que vários de seus membros (familiares) exercem outras atividades, algumas, em tempo parcial.
Schneider apresenta uma discussão sobre quem definiria a pluriatividade como forma de garantir a reprodução social, se seria uma estratégia individual ou se seria um recurso ao qual a família faz uso. E busca a definição para pluriatividade como sendo “uma estratégia de reprodução social, da qual se utilizam as unidades agrícolas que operam fundamentalmente com base no trabalho da família, em contextos onde sua integração à divisão social do trabalho não decorre exclusivamente dos resultados da produção agrícola, mas, sobretudo, mediante o recurso às atividades não agrícolas e a articulação com o mercado de trabalho”.
Utilizando várias técnicas da investigação social, dentre elas a aplicação de questionário estruturado, tipo survey, o pesquisador obteve em sua amostra final 60 famílias, sendo 37 pluriativas e 23 de agricultores (23 do RS e 37 de SC). Aplicou ainda entrevistas semi-estruturadas junto a lideranças e pessoas de referência nas comunidades estudadas.
Realiza uma revisão de literatura buscando referenciar a agricultura familiar sob a ótica da pluriatividade. Parte da “Sociologia da Agricultura” de Buttel e Newby, Larson e Gillespie Jr e afirma a proximidade teórica com Marsden e Fuller.
Para Marsden, a pluriatividade está relacionada com o recuo do padrão fordista na agricultura e que as novas funções do espaço rural se vinculam ao consumo de bens materiais e simbólicos (propriedades, festas, folclore, gastronomia, etc.) e serviços (ecoturismo, atividades ligadas à preservação ambiental, etc.), propondo um novo conceito-chave para essa nova configuração, a saber, a commoditization, mostrando que a pluriatividade tende a se generalizar.
Para Fuller, ligado à corrente teórica difusa e eclética, concorda que a pluriatividade esteja ligada aos mecanismos utilizados pelas famílias na relação com o mercado de trabalho e concorda com a idéia de que se pode explicar a pluriatividade a partir da dinâmica interna das unidades familiares e, ao mesmo tempo, de sua relação com o ambiente externo (diversificação).
A partir dessa teoria, o autor busca fixar uma unidade de observação, optando pela família rural como unidade de referência para o trabalho. Família entendida como grupo social que compartilha o mesmo espaço e possui em comum a propriedade de um pedaço de terra.
Na tabela 3 o autor engloba matas naturais e reflorestamentos o que, para mim, são coisas bem diferentes uma vez que os plantios arbóreos conferem renda direta (de médio e longo prazos) e elevada, o que foi desconsiderado na composição da renda. Por fim, que a atividade florestal deveria ser considerada como atividade agrícola
Após apresentar e discutir a pluriatividade nas duas situações previamente definidas, Schneider conclui que a pluriatividade se constitui como estratégia da família rural de ambas as regiões; que os membros das famílias pluriativas são bem mais jovens que os das famílias de agricultores; que as famílias pluriativas são mais numerosas, portanto com mais idade ativa para trabalhar. Destaca que para os pluriativos o trabalho fora da propriedade se constitui na melhor forma de se ganhar dinheiro e que é fundamental para a manutenção da propriedade e reprodução do grupo doméstico. Por fim, que cada unidade familiar reage de modo distinto a esse conjunto de atividades e que as estratégias adotadas pelas famílias podem se modificar no tempo e pelas circunstâncias a serem enfrentadas em seus contextos.

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